Se odeio uma pessoa, a psicanálise mostra que ela não é necessariamente má: o ódio é
MEU, o ódio sou EU, é MEU problema.
A autoajuda prega que não devemos sentir raiva ou outras emoções que não sejam
“positivas” e que somente devemos praticar o bem.
A intenção pode ser boa. Mas devemos nos autorizar a sentir todas as emoções, a
começar pela raiva, ou a inveja, ou o ciúme.
Justamente as emoções que a auto-ajuda procura impedir que saiam.
Quando é reprimida, a energia acaba estourando. Logo, psiques explodem exatamente
porque o mal, o mal dentro de nós, o sentimento negativo, foi represado e reprimido até
achar uma válvula de escape, geralmente péssima em termos sociais.
A psicanálise nos autoriza não a agir segundo os afetos hostis, mas apenas senti-los.
Se tenho ciúmes por alguém, ela me faz reconhecer isso, e até me mostra que não há mal em desejar o mal. Só que, reconhecendo a hostilidade dentro de MIM, percebo que ela está em minha psique, NÃO no mundo externo.
Se odeio uma pessoa, a psicanálise mostra que ela não é necessariamente má: o ódio é
meu, o ódio sou eu, é meu o problema. Ela autoriza o sentimento, mas desautoriza qualquer racionalização em cima dele.
Passamos o tempo construindo discursos complicados para provar como os OUTROS nos fizeram mal. A psicanálise aceita esses discursos -só que mostra que são apenas
discursos, que não dizem a verdade sobre as outras pessoas, só a dizem sobre MIM.
Por isso ela libera, ao permitir o ódio - e cura ou, pelo menos, melhora a vida das pessoas
ao desligar o ódio dos objetos externos, enganosos e remetê-lo ao próprio sujeito, a mim
que odeio, e a mim que posso parar de odiar tanto. Por isso ela pode superar o ódio, enquanto a auto-ajuda só consegue prendê-lo, adiá-lo, escondê-lo.
E a questão é esta: Você quer ficar em intenções não realizadas ou ir mais fundo?
A psicanálise está longe de ter uma história de sucesso com seus pacientes. Mas sua
mensagem social: aceite que você não é um anjo - continua muito libertadora.
Comments