O luto é a resposta emocional esperada diante da perda de um objeto significativo para o indivíduo. Esse objeto perdido pode ser um ente querido, emprego, casa, país, um animal de estimação, partes do corpo, fases da vida.
O processo do luto é lento e doloroso, nele o sujeito vivencia diversos sintomas que são adequados e esperados diante de uma perda significativa. É importante lembrar que nem todos os sintomas são encontrados nas pessoas enlutadas e nem durante todo o tempo de duração do luto.
Freud (1915), afirma que no luto estão presentes um desânimo profundamente penoso, a perda de interesse pelo mundo externo, perda da capacidade de amar e inibição de toda e qualquer atividade.
Bromberg (1998) considera que a pessoa enlutada apresenta vários sentimentos que se sobrepõem e se mesclam: tristeza, raiva, saudade, culpa, arrependimento, desmotivação.
Kluber-Ross (2000) delimita cinco estágios no processo de luto: negação e isolamento (não acreditar na notícia e se afastar das pessoas), raiva (juntamente com a raiva podemos encontrar o choro constante, culpa e a ansiedade), barganha (acordos normalmente feitos com Deus para se obter a vida anterior à perda, para se reverter a perda, fazendo juramentos e promessas), depressão (sentimento de tristeza associados à solidão, nessa fase pode ser importante o acompanhamento de um profissional para que não se torne um transtorno depressivo) e aceitação ( o sujeito consegue lidar melhor com o sofrimento e reorganizar a sua vida).
Segundo Freud (1915), para elaboramos a perda temos que renunciar ao objeto perdido e reconstruir com ele uma nova relação, substituindo-o simbolicamente por outro e isso ocorre quando se conquista algo do objeto perdido para carregar consigo: lembranças, vivências, aprendizados, jeito de fazer alguma coisa. Assim, de forma simbólica, o que se perdeu é integrado no interior do eu, passando a fazer parte da memória do enlutado e ele consegue seguir em frente. Isso não significa se esquecer daquilo que foi perdido, a ausência e a lembrança sempre estarão presentes, mas poderretomar a vida, a rotina sem que a perda ocupe um lugar de destaque. A partir daí, pode-se abrir para novas possibilidades, criar novos vínculos com outros objetos e estabelecer novas relações.
No que se refere a duração do processo de luto este se realiza paulatinamente, assim, é necessário um certo período de tempo e não podemos delimitar um tempo específico de duração do luto. Esse tempo é subjetivo e depende da vivência e da relação que o sujeito tinha com o objeto perdido. Além do processo de luto ser influenciado por questões subjetivas também sofre influência de fatores religiosos, culturais e históricos.
Normalmente o processo do luto se resolve sem a ajuda de uma psicoterapia, mas há casos em que essa intervenção pode ser necessária e isso acontece quando o luto é mal elaborado ou não é vivido pelo sujeito, gerando um luto complicado, um luto patológico. Geralmente, o luto patológico se faz presente em perdas abruptas de entes queridos que ocorrem por tragédias, acidentes, suicídios, morte precoce de um filho.
A melancolia, abordada por Freud (1915) em Luto e melancolia, pode ser considerada um luto patológico. Atualmente, o equivalente contemporâneo da melancolia é a depressão. Na melancolia, além de estarem presentes os sintomas do luto (já citados acima), tem-se o rebaixamento da autoestima: o paciente representa o eu como desprovido de valor, o eu fica depreciado e empobrecido, a falta de interesse é consigo mesmo.
Dunker (2018) afirma que na melancolia/depressão os sintomas não estão apenas associados à tristeza, mas está presente a anedonia: perda da capacidade de sentir prazer, a ausência de desejo, o sujeito sente-se impotente diante da vida, tem-se uma desistência do existir. O autor menciona também a existência de sintomas físicos como perda de apetite, perda de sono, dores no corpo, cansaço, humor irritativo, hipomania (estar acelerado).
É importante lembrar também que há casos em que a pessoa age como se nada tivesse acontecido, voltando a trabalhar rapidamente, assumindo diversos compromissos o que revela uma forma defensiva de lidar com a perda, evitando lidar com a perda, com o sofrimento. Temos aqui o luto adiado em que o enlutado não apresenta reações imediatas à perda, manifestando-as tardiamente.
No contexto de um luto patológico é importante a intervenção psicoterápica para que o sujeito possa falar sobre o que foi perdido, para que as emoções e sentimentos decorrentes da perda possam ser vividos, nomeados, validados e elaborados, dando aele a possibilidade de viver a perda e se adaptar às novas condições de vida surgidas a partir dela. O objetivo da psicoterapia é trabalhar com a aceitação da perda, possibilitando o estabelecimento de novas relações objetais, a reconstrução e reorganização diante da perda.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FREUD, Sigmund (1915). Luto e melancolia. Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, 24 vol., Rio de Janeiro: Imago, 1996, ESB XXI.
BROMBERG, Maria Helena. A psicoterapia em situações de perda e luto. São Paulo: Editora Psy, 1998.
DUNKER, Christian. Como acontece o luto? Canal Youtube Falando Nisso, 23 de novembro de 2018.
KLUBER-ROSS Elizabeth. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Comentários